Por Carolinne Rigotti
O feminismo negro é diferente do branco e vamos apontar alguns desses detalhes
O feminismo negro é diferente do branco e vamos apontar alguns desses detalhes
São várias as diferenças entre o feminismo branco e negro, mas apontamos apenas cinco neste Top Break. Para não causar mais confusão - e, querendo ou não, mais falas inapropriadas -, vamos aproveitar o mês da Consciência Negra para conversar sobre o assunto. Vamos lá?

O Dia Mundial da Consciência Negra pode até ter passado no calendário, mas na vida tem ser levado a série absolutamente TODOS OS DIAS. E junto com a luta pela igualdade e respeito, surgiu o feminismo negro. Esta vertente segue a mesma que a de todo o feminismo, mas é também atrelada a luta antirracista - e surgiu antes mesmo do que conhecemos como feminismo hoje em dia. Para quem não estudou história, mulheres negras eram obrigadas a trabalhar como escravas e não tinham o direito de construir uma família, por terem que se dedicar totalmente à serventia de famílias brancas. Dá uma vontade de dar um sacode em quem ainda tem a cara de pau de falar que racismo não existe...

Mas tem muita gente que não sabe diferenciar muito bem o FEMINISMO BRANCO do FEMINISMO NEGRO. Eu sou uma mulher branca e já ouvi coisas como "feminismo é uma coisa, racismo é outra, são duas lutas diferentes" e não é bem assim, não... Pensando nisso, o Purebreak decidiu fazer essa listinha de diferenças entre um termo e outro, para ajudar um pouco mais no entendimento.

1- Mortes

Pelo menos um jovem negro, sendo ele homem e mulher, é morto de forma violenta a cada 23 minutos. A estatística também grita quando apresentamos o número de homens e mulheres que foram presos (justa ou injustamente), em comparação com as pessoas brancas. As mulheres do feminismo negro tentam mudar essa estatística de alguma forma.

2- Direito de trabalho

A série "Coisa Mais Linda" falou MUITO bem sobre essa diferença em um dos episódios. Uma mulher branca pode ter dificuldade de arranjar um emprego, por exemplo. Tem que deixar os filhos com outras pessoas, chegam em casa cansadas e ainda têm que fazer as coisas em casa... Mas, se for parar para pensar, a realidade das mulheres negras, em sua grande maioria, é pior do que esta: muitas são submetidas ao trabalho muito antes, ganhando MUITO menos e desempenhando papéis que, em sua grande maioria, não as agradam. Aqui não precisa de muita explicação, só de assistir ao vídeo abaixo já dá para entender.

3- Sexualizadas

Vamos dar um exemplo: já perceberam que, em sua grande maioria, homens de outros países vêm ao Brasil e dizem que sentem vontade de conhecer uma "mulata que sambe"? Fora o esteriótipo de que toda mulher negra sabe sambar, os homens (em sua grande maioria, brancos) têm essa mania de sexualizar o corpo negro (e nem precisamos falar do termo chulo "mulata", né?).

4- Privilégios

Este item aqui é muito óbvio, mas merece ser mencionado também. As mulheres negras não têm os mesmos privilégios que as mulheres brancas e isso é óbvio. Podemos notar isso em momentos mais sérios e até nos mais "bobos", como por exemplo, tutoriais na internet. Hoje em dia nem tanto, mas antigamente era muito difícil encontrar um passo-a-passo de maquiagem para pessoas negras. Ou penteados que poderiam ser feitos por pessoas com cabelos cacheados e crespos também. Até nas lojas de cosméticos era bem difícil de se encontrar produtos para todas as tonalidades de pele.

5- O racismo TAMBÉM existe no movimento feminista

Gente, vamos mais uma vez partir para o óbvio: o fato de você lutar por uma causa não significa que você não diminua as demais. E muitas feministas acabam excluindo e até calando a voz das mulheres negras, dentro do próprio movimento. Como citado pela professora de história da África, Fernanda Thomaz, em ma entrevista ao Projeto Colabora, o feminismo negro é extremamente importante e nada "separatistas", como tem muita gente que diz. "O que diferencia e demarca a importância do dia 25 de julho é pensar que existe uma relação de poder dentro do movimento feminista, controlado pelas mulheres brancas de elite, no sentido de levantarem suas pautas como únicas. Então, há uma relação ainda de um racismo muito forte no movimento. De uma forma geral, eu acho que se a gente percebesse essas diferenças, a gente poderia pensar em um movimento muito mais conjunto. Para mim, ainda existe essa relação de poder muito forte, quando as mulheres brancas colocam suas pautas como universalizantes", afirma.

Lembrando que: esta matéria foi escrita por uma mulher branca e este não é o meu local de fala. Para entender mais sobre o feminismo negro, temos artistas geniais e que falam com muita propriedade sobre o assunto, como os canais "Papo de Preta" e "Neggata", no YouTube, as autoras Djamila Ribeiro e Joice Berth, a filósofa Sueli Carneiro, a professora norte-americana Angela Davis e muitas outras profissionais renomadas e que lutam pelos direitos da mulher negra no mundo.

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