Por Izabella Ravizzini
#ConsciênciaNegraPRBK: Gabi Oliveira é uma das influencers que levanta a bandeira para que o mercado brasileiro de maquiagem seja mais abrangente com meninas negras
#ConsciênciaNegraPRBK: Gabi Oliveira é uma das influencers que levanta a bandeira para que o mercado brasileiro de maquiagem seja mais abrangente com meninas negras
Para quem ama se maquiar, as lojas de cosméticos parecem um parque de diversões. Mas, você já reparou na quantidade de produtos para peles brancas e para peles negras nas prateleiras? Pois é, a diferença ainda é gritante. Neste mês de novembro, o #ConsciênciaNegraPRBK vai abordar questões relacionadas com o movimento negro e vamos começar justamente com... Maquiagem! A pergunta é: por que as marcas brasileiras ainda investem menos em produtos para peles negras?

Não podemos negar: vivemos em uma sociedade racista e isto está estruturado em todas as coisas, inclusive no universo da beleza. Quando falamos em cosméticos, principalmente no Brasil, ainda há muita dificuldade para que pessoas negras encontrem produtos que sejam pensados exclusivamente para elas. Quem olha a gama de tons quase infinita da Fenty Beauty, marca de maquiagens da Rihanna, fica sonhando com o dia em que uma empresa brasileira vai lançar algo parecido.

E não é só a falta de tons que é um problemão. Muitas marcas até começaram a lançar produtos que supostamente atenderiam este público, mas erraram em não chamar profissionais especializados para consultoria, o que resulta em produtos que acinzentam ou embranquecem as peles negras. Na internet, há todo um movimento que está cobrando às empresas que façam um trabalho mais sério neste quesito. Nomes como Tassio Santos, do "Herdeira da Beleza", Gabi Oliveira, do "De Pretas" e Xan Ravelli, do "Soul Vaidosa", então fazendo barulho para que o nosso mercado nacional se dedique a estudar e investir em profissionais e consumidores negros. Certíssimos!

Para o #ConsciênciaNegraPRBK, conversamos com a maquiadora Maria Sousa, de 28 anos, que se especializou em colometria para peles negras e procura sempre incentivar suas clientes à abraçarem suas características naturais. Confira!

Por que, na sua opinião, ainda faltam opções de maquiagens para peles negras no mercado nacional, considerando que cerca de metade da população brasileira se identifica como negra?

As marcas se preocuparam, quando foram fundadas, com o consumidor final. Infelizmente a gente sabe que, por questões históricas, as pessoas com um nível aquisitivo maior, em massa, são pessoas de pele clara. Hoje, por conta do movimento negro, das pessoas na internet falando sobre isso, as marcas estão lançando cores para peles negras. Mas ainda são limitadas. Têm 20 tonalidades para pele clara e 2 para pele negra, mas ainda assim muitas não têm nenhuma para pele retinta.

E o que você acha que todos nós podemos fazer, ativamente, para mudar isso?

Para mudar esse cenário, só fazendo o boicote mesmo. Existem diversas marcas que eu não compro nem os outros produtos, que não sejam de pele. Porque é uma empresa que não é consciente, não está alinhada com o que eu prego. Se a marca não se importa com algo tão necessário, tão urgente, nós não podemos investir nosso dinheiro nela.

Mas você acha que já houve uma melhora no mercado nos últimos anos?

Sim, já houve uma melhora exorbitante. Há 6 anos atrás eu nem imaginava uma marca como a Negra Rosa, nem uma cartela de tons tão grande para pele negra em uma marca como a MAC. As empresas estão começando sim a se importar, nós temos que continuar fazendo barulho, porque é isso que está fazendo a diferença. Eles estão de olho no que é rentável, então começam a se interessar por esse público. A auto estima da mulher negra está, de forma significativa, muito mais presente. Essa mulher vai na loja, quer comprar o produto dela, quer usar maquiagem. E ela pergunta "por que não fabricam o meu tom?". É por isso que as marcas estão se importando, por esse movimento.

Fazer contorno para apagar traços negros também é uma forma de racismo

A maquiagem é só um acessório. Eu não trabalho para que a pessoa se sinta linda após a maquiagem, mas para que a pessoa veja que eu estou potencializando uma beleza que já existe nela. Eu não transformo aquela mulher em uma "mulher bonita", ela já é bonita! A partir do momento que as pessoas tentam afinar um nariz com características negróides, elas estão tentando alterar uma etnia, toda a raiz, toda a história de um povo que carrega essas características. Eu não descaracterizo etnia de nenhuma cliente, porque apesar de o meu trabalho ser agradar à minha cliente, eu não posso ser infiel àquilo que eu acredito.

 

O que você, como profissional da área, acredita que pode ser feito por maquiadores para que suas clientes negras conheçam melhor os produtos e estilos de maquiagem que abracem a beleza delas?

Eu sempre converso com muita empatia com as minhas clientes, porque eu preciso respeitar o processo de aceitação delas. Nós [maquiadores] temos que estimular esse entendimento, que elas abracem a ancestralidade, e também entender que é um processo particular de cada uma. Cada uma tem suas dores e passou por uma história diferente, não é uma receita de bolo. Como profissionais, o nosso maior dever é ter empatia, respeito e consciência do nosso lugar nesse processo. Não podemos ultrapassar os limites de cada cliente, mas devemos passar as informações adiante, exaltar a beleza da pessoa como ela é. Quanto mais profissionais engajados no assunto, mais vamos evoluir.

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