A palavra empoderamento foi constantemente repetida e você provavelmente já ouviu falar que uma pessoa é "empoderada". Algumas teóricas feministas com produções importantes na área falam muito sobre o esvaziamento de sentido que foi causado. Ao contrário do que muitas pessoas pensam, não se trata apenas de dar poder a alguém, mas também de questionar as estruturas dominantes na sociedade e buscar a ascensão do grupo oprimido. No dicionário Aurélio encontramos a definição social de empoderamento como:
"Conquista e distribuição do poder de realizar ações, ao adquirir-se consciência social e conhecimento, de forma a produzir mudanças a partir destas aquisições".
Em outras palavras, não devemos nos atentar só à questões individuais como a liberdade de dizer e fazer o que quiser (claro, sempre respeitando as outras pessoas). O empoderamento faz parte disso, mas seu principal objetivo é libertar coletivamente um grupo de pessoas que tem menos privilégios na sociedade - mulheres, negros, indígenas, amarelos, entre outros - pensando e desenvolvendo ações que deem melhores condições a elas.
Quem trouxe esse debate de maneira mais ampla para o Brasil foi a teórica Joice Berth. No livro "O que é empoderamento?", que é uma obra bem curtinha e fácil de entender, ela fala de muitas meninas que querem ser feministas e iniciam esse processo na internet, mas acabam entendendo que uma "mulher empoderada" é simplesmente aquela que se impõe.
O que Joice Berth diz sobre o empoderamento?
A teórica participou de uma entrevista no canal da atriz Mariana Xavier, que fala principalmente sobre a aceitação do corpo. Super recomendamos que você assista o material para compreender, pelas palavras de Joice, o que é o conceito. No vídeo, ela explica que essa ideia de "pessoa empoderada" citada ali em cima é meio que impossível. "Uma mulher empoderada seria aquela que não tem nenhum problema ou que consegue, pelo menos, remediar e transpor os problemas que uma estrutura social racista, machista, falocêntrica e patriarcal causa na vida dela", explicou.
Berth reforça a ideia de que o empoderamento é o trabalho de questionar os padrões de poder existentes na sociedade, que são excludentes, segregacionistas e geram desigualdades. A ideia comum do termo a incomoda porque simplifica demais a teoria. "Então você dá poder e está dizendo que é muito poderoso e vai doar seu poder para outro. Esse não é o conceito que realmente vai dar uma base para um trabalho mais politizado", alerta a teórica.
"Você não consegue estar empoderada se o seu grupo não está"
Essa fala, também presente na entrevista, é ótima para entender o sentido do que é empoderamento. As liberdades individuais só são interessantes se todas as pessoas impedidas de alguma forma de realizar essas mesmas coisas também puderem usufruir do direito.
Berth mostra um exemplo interessante: quando uma menina diz que seu corpo é livre e pode usar roupas curtas, ela precisa entender que outras mulheres não poderão fazer isso. Ás vezes, certas meninas frequentam lugares que são extremamente perigosos ou vivem com seu assediador, por exemplo.
Dessa forma, ela deve passar a pensar em como fazer com que todas as mulheres tenham esse direito garantido. O primeiro e principal caminho, segundo a autora, é se munir de conhecimento. Estude os movimentos nos quais você quer se engajar! Se for mais difícil acompanhar as leituras, assista filmes. Há muitos sobre o movimento feminista, assim também como o tema racismo já foi retratado em diversas produções.
E conhecimento bom é aquele compartilhado, não é mesmo? Depois de um "empoderamento individual", é necessário conversar com outras pessoas e conscientizá-las sobre esses processos. Assim, uma luta coletiva se torna possível e o envolvimento político também. A parte final ocorre quando as propostas são aprovadas e aplicadas, principalmente pelo poder púbico, podendo transformar a realidade de um grupo e, portanto, empoderá-lo de alguma forma.
Empoderamento feminino
O empoderamento feminino é o processo de conscientização e ação de mulheres que compreendem a estrutura machista e patriarcal da sociedade, deixando de reproduzir atitudes de submissão, na medida do possível, e buscando ainda formas de superar as desigualdades do grupo. Essa movimentação vem crescendo por conta da luta dos movimentos. Algumas celebridades que usam seu espaço para falar do assunto, também ajudam a tornar a pauta mais aceita e debatida na sociedade.
Existem práticas que promovem a equidade de gênero em diversos espaços. Você já ouviu falar dos Princípios de Empoderamento das Mulheres (WEPs)? São 7 orientações estabelecidas pela Organização das Nações Unidas (ONU) para que as trabalhadoras possam crescer tanto quanto os homens nas empresas em que trabalham:
- Estabelecer liderança corporativa de alto nível para a igualdade de gênero;
- Tratar todos os homens e mulheres de forma justa no trabalho – respeitar e apoiar os direitos humanos e a não-discriminação;
- Garantir a saúde, a segurança e o bem-estar de todos os trabalhadores e as trabalhadoras;
- Promover a educação, a formação e o desenvolvimento profissional das mulheres;
- Implementar o desenvolvimento empresarial e as práticas da cadeia de suprimentos e de marketing que empoderem as mulheres;
- Promover a igualdade através de iniciativas e defesa comunitária;
- Mediar e publicar os progressos para alcançar a igualdade de gênero.
Quando falamos de empoderamento, o mais comentado é o caso das mulheres. Isso não quer dizer que sejam as únicas pessoas interessadas nesse processo. Todos os grupos minoritários podem e devem se empoderar, avaliando suas demandas e buscando resolvê-las. Temos, por exemplo, o empoderamento negro, o indígena e o da comunidade LGBTQIA+, que envolve uma série de grupos juntos. Identifique em qual/quais dele(s) você se encaixa, busque conhecimento, compartilhe suas ideias e se envolva para que a realidade algum dia mude, mesmo que isso não aconteça agora.