Larissa Barros Redatora
A louca do K-Pop e música em geral, adoro saber tudo de novo que surge no mundo, de teorias da conspiração até o último modelo de celular. Aquariana raiz, adoro tudo que é diferentão e não faço nada sem uma trilha sonora para acompanhar.
Diante do agravamento da crise climática, a prática contínua do consumo elevado de carne é cada vez mais questionada. Um aumento notável nas estatísticas de produção e consumo global de carne ressalta a urgência de soluções sustentáveis. Dentro deste contexto, surge o pastoreio adaptativo multi-parcelas (AMP), uma abordagem que promete revolucionar a pecuária, tornando-a mais sustentável e até benéfica para o meio ambiente.

Nós gostamos de carne. Muito. Estudos sobre sua produção e consumo demonstram isso de forma muito clara. Os dados coletados por Statista ou Our World in Data, para citar apenas duas fontes, mostram como, ao longo das últimas décadas, os níveis de produção e consumo dispararam globalmente. E não apenas devido ao aumento da própria população mundial. A quantidade de coxas, costeletas, costelas, bifes ou asas que cada um de nós consome ao longo do ano também aumentou. Este "boom" deixou uma marca igualmente inegável e, sobretudo, preocupante no meio ambiente, mas... E se pudéssemos mitigá-la?

Existem aqueles que acreditam que é possível. A chave: uma pecuária mais inteligente

O que os números dizem? Que estamos consumindo cada vez mais carne. Os dados coletados pelo Our World in Data mostram, por exemplo, que a produção global mais do que quadruplicou desde o início da década de 1960: de 70,6 milhões de toneladas em 1961, passamos para cerca de 352,1 em 2021. Este "boom" foi acompanhado por um aumento do consumo global, que alcançou níveis mais que o dobro do que era há meras três décadas. Em 2021, o total teria ultrapassado 328 milhões de toneladas métricas.

Tal aumento poderia ser justificado pelo crescimento da própria população mundial - o planeta abriga muito mais pessoas em 2023 do que nos anos 60 ou 90 - mas as estatísticas mostram que essa não é a única razão: cada um de nós está consumindo mais carne agora. Se o consumo per capita era de 22,9 kg por ano em 1961, em 2020 esse número disparou, chegando perto de 42,3 kg. Em particular, destaca-se o consumo de aves (16,2 kg por pessoa por ano), carne suína (quase 14,5 kg) e carne bovina (cerca de 9 kg por pessoa por ano).

E como isso afeta o planeta?

Novamente, os dados falam por si só. A FAO estima que a pecuária é responsável por 7,1 gigatoneladas de CO2 por ano, o que corresponde a 14,5% de todas as emissões de gases de efeito estufa atribuíveis às atividades humanas. Ao calcular esses números, a organização considera desde a produção e processamento de alimentos, incluindo mudanças no uso da terra, até o transporte ou armazenamento de esterco.

Outro ponto focal ao avaliar a pegada de gases de efeito estufa são os gases emitidos pelos próprios animais durante sua digestão: cerca de 44% das emissões da pecuária são, de fato, na forma de metano.

Existem mais impactos no meio ambiente?

As emissões de dióxido de carbono ou metano não são as únicas pegadas da pecuária no planeta. Outra, não menos importante, é o desmatamento. A FAO calcula que, durante a década de 90, a área florestal do mundo diminuiu em cerca de 94.000 quilômetros quadrados por ano, uma área equivalente à de Portugal. E a maior parte das terras queimadas ou desmatadas foram destinadas a dois principais usos: agricultura e pecuária. "Na América Latina, em particular, quase todas as terras desmatadas tornaram-se pastagens para a criação de gado em sistemas extensivos de pastoreio", adverte a organização.

E se repensássemos o pastoreio? É isso que os defensores do pastoreio adaptativo multi-piquetes (PAM, na sigla em inglês) propõem. O que eles buscam é basicamente um uso mais inteligente do terreno, um que permita maximizar seu uso e evitar que o gado empobreça os solos dedicados ao pastoreio. Pode parecer uma solução complicada, mas baseia-se em algo tão simples quanto o pastoreio rotativo.

Em vez de permitir que o gado paste livremente por semanas ou meses em grandes campos, os agricultores que aplicam o PAM dividem a terra em múltiplos piquetes bem definidos onde o gado se alimenta por um período muito mais curto. Quando esse período termina, eles são movidos para outro piquete.

O objetivo é evitar a superpastejo, um uso agressivo da terra que elimina a vegetação, expõe o solo à erosão e pode até favorecer a proliferação de espécies invasoras. Aplicando o sistema PAM, o gado é limitado a piquetes delimitados, então eles têm que se alimentar de todas as plantas comestíveis, não apenas de suas preferidas. A chave é que essa área de terra é usada por um período suficientemente curto para garantir que os animais não esgotem toda a forragem.

O resultado?

Um uso mais eficiente das pastagens, uma melhor dispersão do esterco, o que favorece sua utilização como fertilizante, e, claro, um uso menos agressivo da terra. Regeneration International explica que, ao rodar em períodos curtos, evita-se que os animais consumam mais de 50% da forragem disponível em cada piquete. Pode parecer um detalhe pequeno, mas ajuda a cobertura vegetal do solo a se recuperar mais rápido. A organização explica que, embora 50% da planta seja removida, as raízes continuam a crescer, algo que não acontece quando 70% a 90% da planta são removidos.

O que os dados dizem? Não é tudo teoria. Entre 2018 e 2022, foi realizado um estudo que pretendia entender até que ponto o PAM (Pastoreio Adaptativo Multi-piquetes) pode reduzir o impacto da pecuária. O experimento foi realizado como parte de um documentário e seus resultados ainda não foram publicados ou revisados por pares, mas o professor Peter Byck, envolvido no projeto, recentemente adiantou algumas de suas principais conclusões à rede CNN: dados preliminares mostram que as fazendas que aplicaram um sistema de pastoreio PAM absorveram até quatro vezes mais carbono do que as convencionais, e que seus bois emitiram até 10% menos metano.

E como isso afeta o solo?

O solo menos alterado por máquinas agrícolas também apresentava 25% mais micróbios, uma biodiversidade de insetos 33% maior e o triplo de aves. Esses não são os únicos indicadores que incentivam o otimismo. Os níveis de nitrogênio eram mais altos nas terras onde os bois espalhavam seu estrume, e devido ao solo estar menos compactado pelo pastoreio contínuo, a terra também absorvia mais que o dobro da quantidade de chuva por hora. Outros estudos já mostraram como isso pode ajudar a combater a seca.

Uma fazenda que aplica PAM pode criar mais bois na mesma área do que outra que mantenha o sistema convencional. "Assim não precisaremos desmatar florestas tropicais. Não precisamos alimentar o gado com soja", afirma Byck.

Existem mais benefícios? Sim. Regeneration International sugere outra ideia adicional, igualmente interessante: como as parcelas que aplicam o PAM sempre mantêm certo nível de vegetação, evita-se que os animais entrem em contato com os ovos depositados por parasitas no solo, o que contribui para a saúde deles. A organização cita um estudo que também mostra como o pastoreio regenerativo permite aumentar a disponibilidade de nutrientes no solo e sua capacidade de reter água, além de demonstrar uma notável capacidade de sequestrar CO2.

"Vários estudos mostram que a quantidade de CO2 sequestrado da atmosfera é maior que as emissões de gases de efeito estufa dos sistemas pecuários. O pastoreio regenerativo pode transformar a produção pecuária, de ser uma das principais contribuintes para as mudanças climáticas, para uma das maiores soluções", conclui.

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