Larissa Barros Redatora
A louca do K-Pop e música em geral, adoro saber tudo de novo que surge no mundo, de teorias da conspiração até o último modelo de celular. Aquariana raiz, adoro tudo que é diferentão e não faço nada sem uma trilha sonora para acompanhar.
No final do século XIX, o encouraçado espanhol Pelayo se tornou uma sombra ameaçadora para a Costa Leste dos EUA. Esta é a história do navio de guerra que, em meio à tensão pré-guerra, representou uma estratégia audaciosa da Espanha e perturbou o gigante americano.

As noites do final da década de 1890 eram mais escuras do que o habitual na Costa Leste dos Estados Unidos. Quando o sol se punha em algumas cidades litorâneas, as mais próximas ao oceano, mantinham-se em sombras. Sem iluminação. Sem lanternas que delatassem onde estavam ou pudessem revelar sua distância do mar. O motivo: um sentimento de psicose compartilhada, o medo de que, do outro lado das sombras, ocultos nas águas do Atlântico, houvesse navios espanhóis à espreita com os canhões prontos e apontando. Entre os cidadãos, temia-se um ataque da Marinha.

Estava justificado esse estado de alarme?

Sim. E não.

A Espanha estava destinada a despedir-se do século XIX com um dos maiores fracassos de sua história, um Desastre - assim, com maiúscula - que marcaria toda uma geração: a perda de seus territórios ultramarinos nas Filipinas, Cuba e Porto Rico e a derrota frente aos EUA, uma nação tão poderosa e emergente quanto jovem. Quase uma recém-chegada no tabuleiro internacional.

Uma retaliação frustrada
Antes de dar por perdidos seus territórios e resignar-se a assumir o trauma, o governo espanhol estava decidido a lutar. O inimigo era superior e a tarefa complicada, mas em jogo havia interesses importantes e algo igualmente influente: o orgulho. Como chegou a proclamar em 1896 o próprio Antonio Cánovas del Castillo, naquela complicada empresa, a Espanha estava disposta a esvaziar seus cofres. E até "deixar até o último homem" se necessário.

Não chegaria a tanto, mas a Espanha traçou um plano desesperado para tentar dar um golpe no desafortunado tabuleiro da Guerra Hispano-Americana. A ideia era surpreender o inimigo. Ou, no pior dos casos, fazer um movimento que pelo menos elevasse o moral da pátria. Como? Com boa parte da frota dos EUA em Cuba e nas águas das Filipinas, o governo espanhol decidiu aproveitar a situação e atacar Washington onde mais doía: em sua própria casa.

O plano, conhecido como o "contragolpe espanhol", era simples, pelo menos no papel: mobilizar a frota nacional para atacar a Costa Leste dos EUA e forçar os americanos a dispersar seus navios. A tarefa foi dada ao almirante Manuel de la Cámara y Livermore e decidiu-se criar três divisões, cada uma com suas próprias tarefas. A ideia era dispersar os navios entre Halifax e o Cabo de São Roque, no Brasil, concentrando a atenção em alvos como West Key. Quando Washington soube, ordenou que fossem realizados apagões noturnos na Costa Leste.

A primeira divisão, que deveria descarregar a maior parte do contra-ataque, consistia de cinco navios, com o Carlos V à frente. Os planos da Espanha eram que a segunda divisão se dirigisse às águas do Caribe e estivesse preparada para retornar para a defesa das costas espanholas. À frente estava uma das grandes "joias" da Marinha espanhola: o encouraçado Pelayo.

Somente o Pelayo - e o Carlos V - superava em poder de fogo qualquer um dos navios que o comodoro americano George Dewey tinha nas Filipinas. Os comandantes dos EUA certamente estavam preocupados com a perspectiva de o encouraçado juntar-se à batalha. Em seu livro "A Guerra de 98", Pablo de Azcárate conta como Dewey, que passou para a história por sua vitória na Batalha de Cavite contra a Espanha, em maio de 98, reconhecia "a grande preocupação" que o Pelayo lhe causava.

Estava justificado esse temor? O Pelayo, o navio que perturbava o sono dos comandantes americanos, era um encouraçado de 105 metros de comprimento, 2.719 toneladas e um blindagem de aço que chegava a 45 centímetros de espessura. Dispunha de quatro torres e canhões e, como lembra o cronista Francisco José Rozada no jornal "La Nueva España", suas características valeram-lhe o apelido de "O Solitário". Foi lançado ao mar uma década antes, no início de 1887, e estava sob o poder da Marinha espanhola desde setembro de 1888.

Sua figura era imponente, mas de pouco serviu

O contragolpe espanhol, simplesmente, teve muito contra e muito pouco de golpe. A Espanha podia ter navios e um plano, mas faltava-lhe algo crucial: apoios. A Grã-Bretanha não estava convencida de que a guerra se estendesse pelo Oceano Atlântico e temia que sua frota mercante acabasse prejudicada, então decidiu dificultar as coisas para as autoridades espanholas.

E, dado sua tremenda influência, podia fazê-lo, com certeza

A derrota de Cavite, em Manila, levou o governo a repensar sua estratégia e dirigir boa parte de sua força, incluindo o encouraçado Pelayo e o Carlos V, ao arquipélago asiático. Ao alcançar o Canal de Suez, os espanhóis encontraram-se no entanto com as barreiras das autoridades egípcias, influenciadas por Londres. As coisas se complicaram e quando os navios estavam já no Mar Vermelho chegaram as notícias do desastre de Cervera em Santiago de Cuba e decidiu-se o retorno à Espanha.

O resto é história conhecida. O contragolpe ficou apenas no amago e a Espanha acabou despedindo-se de Cuba, Porto Rico, Filipinas e Guam. Isso significou o fim do Pelayo? Não. Ao encouraçado ainda restavam vários anos de história, até 1924, quando foi substituído pelo encouraçado Espanha, foi dado de baixa na Marinha e seguiu para Rotterdam para seu desmantelamento.

Antes, contudo, chegou a ser utilizado na guerra de Melilla, em 1909, e teve um papel importante em 1911.

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