Por Thais Marques
O funk merece receber críticas quando expõe letras que incitam o estupro, por exemplo. Mas é inegável que o ritmo tenha uma força gigantesca, muita qualidade e mereça ser respeitado como parte da cultura brasileira. Alguns comentários negativos carregam certos preconceitos e, ainda bem, a internet permite que as pessoas apareçam para rebater o que foi dito. Confira alguns exemplos de críticas injustas ao funk que receberam respostas à altura.

A cantora Cardi B colocou o remix de funk do hit "WAP" para tocar em pleno Grammy, no último domingo (14). A versão do single, produzida por Pedro Sampaio, fez parte da apresentação na premiação e não é de hoje que a rapper mostra um carinho pela cultura brasileira. Por aqui, no entanto, algumas pessoas se sentiram irritadas com a saudação do ritmo e as comemorações geradas.

Anitta GIFs | Tenor

Muita gente pode não gostar do funk e até quem hoje em dia ama o ritmo, provavelmente já passou por uma fase de ódio. O gosto pelo gênero musical é realmente polêmico, mas com o tempo todo mundo foi percebendo que o preconceito muitas vezes era o principal problema.

Presente nas festas, o ritmo é também tema em produções audiovisuais e, por vezes, promove até debates educativos. Sua importância ainda envolve uma rica história, personalidades que acumulam grandes conquistas e forte presença na principal festa do país, o Carnaval. Por isso mesmo, a crítica feita ao remix de "WAP" no Grammy foi logo rebatida, como quase sempre acontece. Veja na lista 5 comentários injustos sobre o funk que foram respondidos à altura!

1. Rick Bonadio x Anitta

Rick Bonadio faz tweet criticando repercussão brasileira sobre funk no Grammy 2021
Rick Bonadio faz tweet criticando repercussão brasileira sobre funk no Grammy 2021

Claro que o primeiro da lista é o caso de Rick Bonadio. O produtor musical fez um tweet reclamando da comemoração do público em relação à aparição do remix de funk da música "WAP" no Grammy 2021. Veja a resposta que Anitta deu para o comentário:

Outros aristas também entraram em defesa do funk depois de Anitta. Mc Rebecca, Tati Quebra Barraco, Ludmilla, Lexa, Valesca Popozuda e Luísa Sonza são alguns exemplos.

2. Danrley Ferreira responde comentário de internauta

O ex-BBB Danrley, morador da favela da Rocinha, estava a caminho do ENEM e resolveu postar um vídeo acompanhado de uma música de funk nas redes sociais. Um internauta respondeu: "Deve nem saber as propriedades dos triângulos". Para rebater o comentário, o carioca fez uma postagem que deixou bem explícito como a atitude havia sido preconceituosa e totalmente equivocada. Nele, Danrley explica toda sua trajetória na educação. É importante ainda entender que o ritmo não é motivo para criminalizar a figura de ninguém. Vale a pena assistir o tombo!

3. Regina Duarte x Anitta

No começo de 2020, Regina Duarte foi convidada pelo presidente Jair Bolsonaro a assumir a Secretaria de Cultura do país. Segundo coluna do jornal O Globo, a então nova secretária propôs a criação de "eventos de família" ao lado de cada baile funk. A cantora Anitta, mais um vez, saiu em defesa do funk relatando sua história dentro do ambiente. Ela também ressaltou que não é contra a criação deste tipo de evento, mas não na "intenção de competir com os bailes funks".

Anitta rebate proposta de criação de "eventos para família" ao lado de cada baile funk, feita por Regina Duarte
Anitta rebate proposta de criação de "eventos para família" ao lado de cada baile funk, feita por Regina Duarte

4. Lulu Santos é rebatido por internautas

No mesmo dia em que Anitta lançou o clipe de "Vai Malandra", o cantor Lulu Santos fez críticas indiretas ao funk, pela exposição do corpo que é explorada nas músicas e clipes.

O cantor explicou depois que não se referia à Anitta. "Que fique bastante claro que minha opinião sobre as letras escatológicas, pessoal, intransferível e soberana, nada tem a ver com Anitta, de quem gosto e a quem respeito, muito menos com as periferias onde se continua fazendo excelente arte e vida. Respeito! Grato".

Mesmo assim, alguns internautas continuaram achando que o comentário havia sido infeliz, já que reforçou a antiga ideia de que o ritmo está associado apenas à exposição do corpo feminino e também levanta o debate sobre a liberdade dessas mulheres, um assunto delicado e com muitas faces.

5. Proposta de criminalização do funk x representantes e associações que trabalham com o gênero musical

Frente a uma sugestão legislativa que buscava a criminalização do funk, representantes de associações que trabalham com o ritmo decidiram rebater os argumentos levantados. O autor da proposta, o empresário paulista Marcelo Afonso, reuniu quase 22 mil assinaturas contra os "pancadões" que, para ele, estavam associados ao "recrutamento para o crime e exploração sexual". Em entrevista ao UOL, Marcelo ainda afirmou que o gênero "não é cultura" e que "faz apologia ao crime".

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Bruno Ramos, diretor da Liga do Funk, contou à Rede Brasil Atual que o texto da sugestão legislativa possui um "olhar míope". "É um texto grotesco. Eu, como funkeiro e morador da comunidade, tenho coerência para discutir as questões de políticas públicas e entender o que é responsabilidade do funk e o que é a falta de políticas públicas dentro da periferia. Os 'pancadões' também me incomodam, mas são reflexo da ausência do poder público, de estrutura e de segurança. Isso não é um problema originário do funk, mas da ausência de políticas públicas", defendeu Bruno.

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A Associação dos Amigos e Profissionais do Funk (Apafunk) também deu sua palavra no contexto. MC Leonardo, que integra o grupo, lembra que o projeto serviria para concluir um processo que já é feito há anos, em que o gênero musical é sempre diminuído e associado à vida no crime. Para ele, "os artistas cantam o que vivem" e compara a constatação com Tom Jobim, que cantava sobre a Garota de Ipanema. O MC ainda acrescenta: "Mas aí vão dizer que 'o dinheiro e o champanhe não são realidade deles e são cantados', porém, isso é o desejo e também é real".

Sabemos que muitos pontos podem incomodar as pessoas sobre o funk, mas o que vem sido levantado é a necessidade de um debate um pouco mais profundo sobre as questões que envolvem o ritmo. Como defendido por Bruno Ramos, sendo "um movimento de periferia, a tentativa de criminalizá-lo é histórica". E manda um recado importante: "Se não parar para entendê-lo [o funk] de uma forma sociológica, fica complicado".

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