Por que somos o país que mais mata transexuais? Saiba como ajudar a comunidade LGBTQIAP+
Publicado em 30 de julho de 2021 às 18:30
Por Luísa Silveira de Araújo | Redatora
Jornalista e entusiasta do pop, posso escrever o dia todo sobre Taylor Swift ou BLACKPINK, enquanto maratono minhas séries preferidas.
Ser parte da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil é um verdadeiro desafio. É fácil perceber isso quando analisamos dados sobre a população transexual, que tem perspectiva de vida de apenas 35 anos no país. Conversamos com a vereadora Benny Briolly e a professora Danieli Balbi para entender a raiz do problema e sabermos como podemos ajudar a construir um país mais democrático.
LGBTQIAP+: por que ainda somos o país que mais mata pessoas transexuais? LGBTQIAP+: por que ainda somos o país que mais mata pessoas transexuais?© Getty Images
A realidade da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil não é fácil, mas estamos progredindo
LGBTQIAP+: como podemos avançar na proteção de pessoas trans?
A expectativa de uma pessoa trans no Brasil é de 35 anos
As eleições de 2020 elegeram grandes nomes da comunidade LGBTQIAP+
Benny Briolly é a primeira vereadora trans de Niterói. Conversamos com ela para entender a realidade da comunidade LGBTQIAP+. Confira!
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Pessoas da comunidade LGBTQIAP+ no Brasil encontram sérias dificuldades quando o assunto é representação e respeito. Quando se trata de travestis e transexuais, o problema pode ser ainda maior. De acordo com o Trans Murder Monitoring, nós somos o país que mais mata pessoas trans no mundo há 12 anos consecutivos. E o cenário está cada vez pior já que, segundo a Associação Nacional de Travestis e Transexuais (ANTRA), os assassinatos desse grupo aumentaram 48% nos quatro primeiros meses de 2020 em comparação aos últimos anos.

No começo de julho, a morte de Roberta, uma mulher trans de 32 anos que foi queimada, chocou o país. Mas hoje a história dela já não ganha mais tanta atenção. Muitas vezes, precisamos ir além de casos chocantes e entender o porquê disso ser tão recorrente no Brasil e qual é o papel de pessoas cis nessa luta.

LGBTQIAP+: há 12 anos o Brasil é o país que mais mata pessoas trans © Getty Images

Para saber mais sobre a realidade da comunidade trans e conferir formas de combater a violência, conversamos com Benny Briolly, vereadora pelo PSOL na cidade de Niterói e Danieli Balbi, doutora em Ciência da Literatura e professora da UFRJ. As duas são mulheres trans que desafiaram as estatísticas e ultrapassaram preconceitos que limitam a vivência de travestis e pessoas transexuais em todo o mundo.

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Pessoas trans têm direitos básicos negados

Antes de qualquer coisa, precisamos entender os perigos que as pessoas trans enfrentam todos os dias no Brasil. Ainda de acordo com a ANTRA, a expectativa de vida de alguém trans no país é de apenas 35 anos, muito por conta da violência e da exclusão do mercado de trabalho formal, tornando a pessoa ainda mais vulnerável.

Benny Briolly, que é a primeira mulher trans eleita em Niterói, tem que lidar com a violência e o preconceito em sua rotina. A situação é tão complicada que em meados de maio a vereadora teve que deixar o país temporariamente, por conta de ameaças de morte que estava recebendo.

"O projeto do país foi construído a partir da lógica de exterminar corpos negros e que fujam do padrão de beleza imposto. São muitos fatores que desumanizam nossos corpos e fazem do país o que mais mata travestis e transexuais", afirma Benny Briolly.

"E fica nítida a hipocrisia quando vemos que o Brasil é também o que mais consome pornografia destes corpos", afirma Benny, fazendo referência ao levantamento da Redtube de 2015 que mostrou que brasileiros têm 89% mais chances de procurar por "shemale" (mulheres com genitálias consideradas masculinas) em sites pornográficos.

Benny Briolly (PSOL) foi eleita com mais de 4 mil votos © Divulgação

Outro grande problema é que, apesar dos crescentes números de assassinatos e violências, esse preconceito ainda não é encarado com a seriedade que merece. "Não reconhecem que a LGBTQIAP+fobia é um problema social que precisa ser combatido. Precisamos de políticas públicas para atender às nossas demandas, o que inclui aumento na formalidade do emprego, qualificação e garantia de ocupação em espaços e cargos públicos", aponta Danieli Balbi.

Pequenos avanços da comunidade trans

Apesar do cenário ainda ser complicado, tivemos pequenos avanços nos últimos anos. O próprio debate, cada vez mais presente e recorrente, é um sinal disso, assim como alguns projetos de leis e políticas públicas que começaram a acontecer. "São frutos importantes das lutas de anos dos movimentos sociais em defesa dos direitos LGBTQIPA+", lembra a professora Danieli.

Dentre os principais avanços, Balbi cita a cobertura do processo transexualizador pelo Sistema Único de Saúde (SUS) - desde 2013, a cirurgia de transgenitalização e a readequação sexual, como uso de hormônios, faz parte do serviço público. Além disso, há a garantia de vagas em alguns cursos de pós-graduação e medidas adotadas em 2021 para garantir que qualquer pessoa possa registrar uma criança no cartório, de acordo com sua identidade de gênero - já que os papéis de "mãe" e "pai" nem sempre são cumpridos por mulheres e homens, respectivamente.

Danieli Balbi é professora na UFRJ © Instagram

Mas não podemos esquecer um avanço super significativo: a representação política. Além de Benny Briolly, Duda Salabert (PDT) foi a primeira vereadora transexual em Belo Horizonte e Erika Hilton (PSOL) foi a mulher mais votada nas eleições de São Paulo - só para citar alguns nomes. "Nós agora estamos encarregadas de propor legislações e influenciar políticas públicas. As lutas pelas quais as transexuais e travestis foram eleitas estão se transformando em leis e programas de defesa da nossa vida", afirma a professora.

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Como podemos ir além?

Para combater o preconceito é preciso debate e educação. E nesse caso, é importante que o ambiente escolar seja receptivo a todas as pessoas, de todas as identidades. Por isso, um dos projetos de lei do mandado de Benny Briolly quer garantir o uso do nome social nas escolas municipais de Niterói. Mas também é necessário mudanças no currículo escolar.

"Precisamos de debates sobre gênero, sexualidade e representatividade. Imagina que bonito seria nossas pretinhas e pretinhos aprendendo nas escolas histórias de mulheres como Chica Manicongo, considerada a primeira travesti africana no Brasil", comenta Benny. Mas o caminho não é fácil. "Se incomodam com nossa maneira de vestir e de falar. Mas sei também que o maior incômodo é porque nossa presença nesses espaços pode mover estruturas e abrir novos caminhos", afirma a vereadora.

Vereadores e vereadoras trans são fontes de grandes mudanças © Getty Images

"As pessoas precisam entender que a cidadania cobre toda a diversidade. Então não perdemos nossa humanidade por sermos transexuais e também não perdemos nossos direitos", aponta a professora Danieli. Aos poucos, mais pessoas vão percebendo esse fato, que deveria ser óbvio.

"Não vamos mais aceitar essa marginalização e ficar implorando por respeito. Nossa luta vai transformar o mundo e quem não entender isso, vai ficar para trás" conclui Benny Briolly.

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