Jornalista e entusiasta do pop, posso escrever o dia todo sobre Taylor Swift ou BLACKPINK, enquanto maratono minhas séries preferidas.
O debate sobre saúde mental está presente na maioria das conversas de jovens e adolescentes pelo país. Mas é preciso reconhecer que percorremos um longo caminho até chegarmos nesse ponto. Da criação de "hospícios" ao início do movimento antimanicomial, muitas pessoas lutaram para que esses assuntos se tornassem parte da rotina. Confira a linha do tempo da saúde mental no Brasil e entenda como a situação está atualmente!

AVISO: gatilho e conteúdo sensível.

Durante o mês de setembro, muito se fala sobre saúde mental. Cada vez mais, estamos tendo diálogos abertos sobre transtornos psiquiátricos e psicológicos e compreendendo, de uma vez por todas, que buscar ajuda não significa fraqueza - pelo contrário: é um dos maiores sinais de força. Entretanto, tivemos que caminhar um longo caminho para chegar até aqui e, mesmo ainda existindo muito estigma e preconceito com a saúde mental, o avanço foi considerável.

Separamos 7 pontos na história para você entender como foi a evolução da saúde mental no Brasil e como ainda podemos evoluir no que se refere à proteção e ao cuidado com quem precisa. Veja a seguir a linha do tempo!

Em 1852, o Brasil criou o maior "hospício" da América Latina
Em 1852, o Brasil criou o maior "hospício" da América Latina

1852: fundação da primeira instituição

Ainda como uma monarquia, o Brasil fundou o Hospício Dom Pedro II, em 1852, no Rio de Janeiro. Só o nome já deixa claro os problemas do local, já que "hospício" não é um termo muito usado hoje em dia. O objetivo era apenas retirar da sociedade aqueles que "fugiam da regra", sem nenhuma preocupação com tratamento e bem-estar dos pacientes.

1912: criação da 1ª lei sobre saúde mental

De acordo com artigo de Bismarck Freitas, a primeira lei sobre saúde mental acontece em 1912. Entretanto, também não havia preocupação, de fato, com as pessoas que sofriam com diversas doenças e transtornos. Nesse momento, oficializa-se a especialidade de médico psiquiatra e outras instituições, como a Dom Pedro II, começam a tomar o país. Mais uma vez, o objetivo era "controlar" a doença e seus sintomas, impedindo a pessoa de estar em sociedade.

As Guerras Mundiais apliaram o debate sobre saúde mental no mundo
As Guerras Mundiais apliaram o debate sobre saúde mental no mundo

Pós-guerra: saúde mental ganha análise mais humana

Duas guerras mundiais impactaram os países em diversos aspectos, incluindo no debate sobre a saúde mental. O grande número de pessoas traumatizadas e sofrendo com estresse pós-traumático com certeza teve um impacto nisso. A partir daí, um movimento que se inicia na Europa e nos Estados Unidos chega ao Brasil, exigindo uma abordagem mais humana e justa quando falamos do tratamento de pacientes com transtornos mentais.

1970: reforma psiquiátrica no Brasil

Já no final de década de 1970, o país começa a passar pelo início de uma reforma psiquiátrica, no qual profissionais da área se organizam, realizando eventos e seminários, para discutir o tema e compreender como melhorar o acolhimento dos pacientes, analisando o assunto pelo campo social, político e de saúde pública.

Manicômios ainda são uma realidade no Brasil, infelizmente
Manicômios ainda são uma realidade no Brasil, infelizmente

1980: início da luta antimanicomial

10 anos depois, no final da década de 1980, o movimento antimanicomial ganha força no país. Psiquiatras, psicólogos, assistentes sociais e trabalhadores de várias áreas exigiam o fim de manicômios, anteriormente chamados de "hospício". De acordo com esses profissionais, retirar a liberdade dos pacientes não ajuda em nada e é preciso tratar da condição por um viés humano, psicológico e social. Pacientes devem ser encarades como uma pessoa, que merece ter seus direitos respeitados... Porque é exatamente isso que elu é.

1989: criação do CAPS

Ainda em ritmo de reforma, em 1989 são criados os Centros de Atenção Psicossocial (CAPS). O objetivo é colocar em prática aquilo que já vinha sendo falado pelos ativistas da luta antimanicomial. Assim, o tratamento de pacientes é feito por meio de várias áreas, com profissionais de medicina, psicologia, serviço social etc. Não existe mais a necessidade, pelo menos na teoria, de prender e até mesmo "castigar" a pessoa pelo seu transtorno. É feita uma abordagem multidisciplinar, a fim de ajudar no tratamento e garantir qualidade de vida para todes.

Saúde mental: ainda temos muito o que avançar no Brasil
Saúde mental: ainda temos muito o que avançar no Brasil

Ainda precisamos falar sobre saúde mental nos dias de hoje

Com um salto para os anos atuais, ainda temos muito o que fazer pela saúde mental. Apesar de existir mais diálogo e informação, o assunto pode vir acompanhado de noções antiquadas. Além disso, termos depreciativos - como "louco", "maluco" - ainda são usados na rotina e transtornos reais, que afetam milhões de pessoas - como "depressão", "bipolar", "T.O.C" - são utilizados em piadas no dia a dia, como se não fossem nada.

Para ter uma noção da seriedade do problema estudos citados pelo artigo da médica Cláudia Lopes afirmam que 30% dos adolescentes no Brasil apresentam sintomas de ansiedade ou depressão. E o aumento nos últimos anos foi considerável. O nosso país segue, infelizmente, um padrão global.

Dados da OMS mostram que na última década, os transtornos do tipo cresceram 13%. No mundo, 20% das crianças e adolescentes apresentam alguma condição psiquiátrica, tornando o suicídio a causa principal de mortes entre pessoas de 15 a 29 anos. O assunto não pode ser mais adiado. Avançamos muito, mas milhões de pessoas ainda precisam de apoio e é nossa responsabilidade tornar a saúde mental um assunto presente e comum na rotina durante todo o ano.

Caso você precise de ajuda ou queira conversar, consulte o Centro de Valorização da Vida (CVV) pelo número 188 ou pelo site. As conversas são gratuitas e anônimas!

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