"Bridgerton" estreia sua 2ª temporada no fim desta semana (dia 25 de março) e tem o trabalho (grande) de seguir o sucesso de sua 1ª temporada, que trouxe como protagonistas Daphne (Phoebe Dynevor) e seu Duque de Hastings (Regé-Jean Page). Dessa vez, quem toma as rédeas da história - quase que literalmente - é Anthony (Jonathan Bailey), o primogênito Bridgerton, e Kate Sharma, a responsável irmã mais velha de uma família cheia de segredos. Já deu pra perceber que temos dois líderes com personalidades que praticamente se espelham, né? E é nessa química de cão e gato, cheia de competição e renúncia que a trama dos novos episódios se baseia.
Enquanto no primeiro ano tivemos cenas de sexo quentes e um tanto quanto explícitas, agora a decisão da produção foi de focar nos sentimentos, nas trocas de olhares e nos traumas e dificuldades de aceitar o amor quando você só conheceu sofrimento e regras para não lutar pelo que quer. Enquanto em alguns sentidos as mudanças são bem vindas, em outros a produção da Netflix peca, como nas mudanças bem drásticas nos livros de Julia Quinn - es leitores da saga certamente terão observações - e em dar nós tão grandes na trama, que precisam fazer muitas voltas para serem resolvidos.
Um casal para entrar na história
Nossos dois protagonistas perderam pessoas que amavam muito e tiveram que assumir responsabilidades por suas família cedo demais e, por isso, não se priorizam e tem dificuldade de assumir o que sentem por medo das consequências que isso pode trazer. Com isso, é natural que o ritmo da série não seja como estávamos acostumados e a sensação que fica é de algo que se prolonga demais para acontecer.
A expectativa se constrói principalmente pela atuação apaixonada de Bailey e Ashley, que conseguem transmitir uma tensão sexual e química até maior do que Daphne e Simon na temporada anterior. A gente acredita na dor e no sofrimento que os dois já passaram e praticamente sente na pele tudo que tá na tela. Várias vezes me peguei torcendo muito pra Kate ser menos teimosa ou Anthony não enxergar o que está bem debaixo do seu nariz para acabar logo com aquela agonia.
Diferente dos livros, a forma como essa relação se constrói é mais lenta e toma rumos que não foram escritos pela autora Julia Quinn. No que diz respeito aos mocinhos, até que fazem sentido as mudanças, já que se fosse mantido fiel à obra, o plot seria bem semelhante ao da temporada anterior: atração-paixão-flagra-casamento forçado. E ninguém quer ver história repetida, né? Foi uma saída inteligente da produção, que acaba fazendo o espectador se envolver naquele amor impossível tanto quanto Bridgerton e Sharma. Mais um casal bem-sucedido e que certamente será amado e shippado pelo público, independente do seu final.
Penelope ou Lady Whistledown?
Preciso quebrar os protocolos aqui e dizer que de todas as personagens femininas dos livros, a Penelope é, de longe, a minha favorita. Por isso, vê-la tendo mais espaço e protagonismo na série foi ótimo, o que já era de se esperar após a resposta do público à ela no primeiro ano. E, apesar de desvios significativos dos acontecimentos das páginas de Quinn, foi incrível ver como ela dá vida à polêmica Lady Whistledown e faz a coluna de fofocas mais escandalosa de Londres acontecer, coisa que não é possível presenciar nos livros e que só a série poderia permitir que a gente presenciasse.
Os esquemas, combinados, fugas secretas e a inteligência de Penelope são hipnotizantes e Nicola Coughlan consegue trazer com maestria a mistura de inocência e sagacidade necessárias para que sua personalidade seja construída e as nuances dela descobertas pele telespectadore a cada episódio.
Como todos devem imaginar, tudo isso é importante para a construção do afeto por ela, que inevitavelmente terá algo a ver com a história de Colin (Luke Newton) na 4ª temporada já confirmada pela Netflix. E tá dando certo, não tem como não se apaixonar por Pen.
A temporada das mães incríveis está aberta!
Não poderia deixar de destacar aqui como é maravilhoso ver as histórias de Violet Bridgerton (Ruth Gemmell) e Portia Featherington (Polly Walker) acontecendo e algumas até tomando rumos inesperados. Grandes destaques da temporada, as matriarcas fortes e obstinadas de suas respectivas famílias divertem, criam momentos emocionantes e trazem lindos ensinamentos na medida certa, entretendo qualquer ume que assiste e gerando expectativas pras suas próximas artimanhas e esquemas envolvendo seus filhos.
Os irmãos Bridgerton e a falta de utilidade em suas histórias
E já que começamos a falar de Colin, por que não trazer o primeiro ponto negativo dessa crítica? No livro, o 3º irmão Bridgerton é divertido, irônico e praticamente um alívio cômico de todos os acontecimentos densos das histórias de amor ao seu redor, não há leitore da série que não o adore. Infelizmente não é o que se traduz no seriado de Shonda Rhimes. Será que ele vai ser sempre o chato que toma decisões erradas? Ou a pessoa que tá sempre arrependida e se lamentando da vida? Quem é esse Colin? Como vamos criar uma empatia e torcer por alguém que não oferece nada para torcermos? A nossa esperança é de que ele ganhe mais desenvolvimento e leveza no próximo ano, conforme a trama de Benedict (Luke Thompson) avança e o terreno é preparado pra a sua própria.
Falando em Benedict, o artista da família Bridgerton teve um destaque maior na 2ª temporada e podemos ver mais da sua insegurança no que diz respeito à vocação artística que tem. Mas, no final, tudo se resume à nudez, drogas e com quem ele vai se envolver superficialmente por alguns breves momentos. Entretanto, ao contrário de Colin, eu desenvolvi uma simpatia muito maior pelo Benedict de Thompson e fiquei impressionada em como ele tem química com absolutamente todo mundo que contracena, o que me deixa ansiosa pra vê-lo se apaixonar de verdade nos próximos episódios inéditos. Seu lado sensível e olhares de cachorrinho sem dono são cativantes e o conflito interno com vontades e obrigações constroem um cenário interessantíssimo para o que vem pela frente.
As irmãs Bridgerton: tédio e sumiço
É ótimo ter uma personagem que traga frescor ao se mostrar inquieta com os costumes e regras retrógradas impostas pela sociedade do século XIX, mas quando tudo que ela faz só gira em torno disso, se torna um plot cansativo. Sim, estamos falando de Eloise (Claudia Jessie). É claro que Jessie continua fazendo um trabalho ótimo dando à personagem aquela personalidade espertinha, mas nessa temporada isso é tão evidenciado que se torna absurdo e infiel à realidade, porque bem sabemos que uma jovem daquela época, por mais questionadora que fosse, jamais sairia impune de falhas no comportamento e quebra de protocolos tão grandes. Confesso que em alguns momentos até acelerei algumas cenas dela, porque Eloise passou muito aquela energia que nós brasileires conhecemos muito bem da "adolescente chata da novela das 21h".
Enquanto para alguns irmãos temos muita coisa repetitiva, de outros não temos nada. Francesca (Ruby Stokes), uma das irmãs do meio da família, simplesmente desaparece sem explicação no meio da temporada e não tem nenhum traço de sua personalidade desenvolvido, enquanto até Gregory (Will Tilston) e Hyacinth (Florence Hunt), os mais novos, tem mais espaço de tela e são mais explorados.
Uma nova história, além dos livros
Como já foi dito aqui várias vezes, se você é fã da obra de Julia Quinn, não vá com grandes expectativas de uma adaptação fiel ao assistir a 2ª temporada. "Bridgerton" muda completamente pontos importantíssimos de "O Visconde que me Amava", o segundo livro da saga. E tudo isso para que a série tenha mais fluidez e essas transformações possam abrir portas para situações inéditas e aquelas já conhecidas pelos leitores acontecerem. Já que as mesmas precisariam de muito mais desenvolvimento por causa das limitações de uma produção audiovisual, diferente do que acontece normalmente nas páginas, que não têm barreiras "físicas".
De qualquer forma, é uma experiência super válida e divertida ter diferentes perspectivas e até conhecer novas tramas, ao invés da visão unilateral e limitada que temos ao ler. Então vá de coração aberto e entendendo que algumas mudanças precisam acontecer para que a série flua melhor e dure por muitos anos, do jeitinho que nós, fãs, queremos.
"Bridgerton" estreia sua 2ª temporada no próximo dia 25 de março, sexta-feira, na Netflix. Confira o trailer abaixo: